quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O pior ataque de tubarões da história

O navio USS Indianapolis havia entregado os componentes cruciais da primeira bomba atômica operacional, em uma base naval americana na ilha de Tinian, no Pacífico. Em 6 de agosto de 1945, a arma arrasaria Hiroshima. Mas, voltemos a 28 de julho de 1945. Nesse dia, o Indianapolis partiu de Guam, sem escolta, para juntar-se com o navio de guerra USS Idaho, no Golfo de Leyte, nas Filipinas, a fim de se preparar para a invasão do Japão.

O dia seguinte foi tranquilo, com o Indianapolis navegando a cerca de 17 nós, cortando ondas de cincos a seis metros num Pacífico aparentemente interminável. Com o pôr do sol abraçando o navio, os marinheiros jogavam cartas e liam livros, alguns conversavam com Thomas Conway, o capelão do navio.

O USS Indianapolis, em 10 de julho de 1945

Mas, a tranquilidade logo terminaria. Pouco depois da meia-noite, um torpedo japonês atingiu o Indianapolis a estibordo, levantando os quase 65 metros de proa do navio para fora da água e incendiando um tanque contendo 3.500 litros de combustível de aviação, em um espetáculo de fogo cujas labaredas ascendiam a centenas de metros em direção ao céu. Em seguida, outro torpedo, partindo do mesmo submarino, acertou próximo de meia nau, atingindo os tanques de combustível e o paiol, desencadeando uma reação em cadeia de explosões que abriram uma enorme fenda, quase dividindo o navio ao meio. Ainda navegando à velocidade de 17 nós, o Indianapolis rapidamente sucumbia às grandes quantidades de água que o invadiam. O navio afundou em apenas 12 minutos. Dos 1.196 homens a bordo, 900 conseguiram salvar as vidas, jogando-se no oceano, contudo, o calvário desses homens, que foram vítimas do pior ataque de tubarões da história, estava apenas começando.

Quando o sol nasceu em 30 de julho, os sobreviventes, numa tétrica coreografia, pareciam bailar sobre as águas do Pacífico. Os botes salva-vidas eram escassos. Os vivos, em busca de coletes salva-vidas para os que não tinham nenhum, procuravam pelos mortos que flutuavam entre os escombros. Na esperança de manter alguma aparência de ordem, os que escaparam da morte começaram a formar grupos; uns pequenos, outros com mais de 300 marinheiros, todos à deriva em mar aberto. Logo eles estariam lutando contra a exposição ao sol, contra a sede e contra os tubarões.

As feras foram atraídas pelo som das explosões, pelo naufrágio do navio e pelo sangue dos mortos e feridos, que coloria o oceano, formando um grotesco mosaico de vermelho e azul. Embora muitas espécies de tubarões vivam em águas abertas, nenhuma é considerada tão agressiva quanto a do galha-branca-oceânico. Os relatórios dos sobreviventes do Indianópolis, indicam que os tubarões tendiam a atacar as vítimas vivas perto da superfície da água, levando os historiadores a crer, que a maioria dos ataques veio de galhas-brancas.

Na primeira noite, os tubarões voltaram-se para os mortos, que flutuavam à mercê das ondas. Porém, a luta pela sobrevivência só atraia mais e mais galhas-brancas, que podiam sentir os movimentos dos sobreviventes através de um recurso biológico conhecido como linha lateral: ao longo dos corpos desses animais, existem receptores que captam as mudanças na pressão e no movimento da água, mesmo a centenas de metros de distância. Quando os tubarões passaram a atacar os vivos, especialmente os feridos com sangramentos, os marinheiros tentaram impor uma quarentena, se afastando de qualquer companheiro com uma ferida aberta; e quando alguém morria, eles empurravam o cadáver para longe, sacrificando o corpo do amigo para se manterem longe da mandíbula de um tubarão. Muitos sobreviventes ficaram paralisados ​​de medo, incapazes até de comer ou beber das parcas rações que tinham salvado do navio. Um grupo de sobreviventes cometeu o erro de abrir uma lata de fiambre, mas antes que eles pudessem sentir o gosto, o cheiro da carne atraiu um enxame de tubarões para perto deles. Eles se livraram de suas rações de carne ao invés de arriscar uma disputa com as bestas.

Os tubarões saciaram-se por dias, sem nenhum sinal de resgate para os desafortunados homens. A inteligência da Marinha Americana havia interceptado uma mensagem do submarino japonês que torpedeara o Indianapolis, na qual os nipônicos relatavam como tinham afundado um navio de guerra americano, ao longo da rota seguida pelo Indianapolis, mas a mensagem foi considerada como sendo um truque para atrair os barcos salva-vidas americanos à uma emboscada. Nesse ínterim, os náufragos aprenderam que tinham melhores probabilidades de sobreviver se ficassem em grupo, de preferência, no centro do grupo. Os homens nas bordas eram os mais suscetíveis aos ataques dos tubarões.

À medida que os dias se passavam, muitos sobreviventes sucumbiam ao calor e a sede, ou sofriam alucinações que os levavam a beber água do mar, uma sentença de morte por envenenamento de sal. Aqueles que assim saciaram a sede, caíram na loucura, espumando pela boca, com a língua e os lábios a inchar-se, transformando-se em figuras macabras que incutiam ainda mais terror no coração dos que lutavam contra a morte. Eles muitas vezes se tornaram uma ameaça tão grande para os sobreviventes quanto os tubarões, porque na insanidade, agarravam-se desesperadamente em um companheiro, levando a ambos para as profundezas do oceano.

No quarto dia após o naufrágio, perto do meio-dia, um avião da marinha americana que sobrevoava a área, avistou os sobreviventes do Indianopolis e pediu ajuda. Poucas horas depois, um hidroavião, comandado pelo tenente Adrian Marks, chegou ao local com botes e suprimentos para os sobreviventes. Quando Marks viu os homens sendo atacados pelos tubarões, ele desobedeceu as ordens e aterrissou nas águas infestadas de galhas-brancas, então, o piloto começou a taxiar o avião para ajudar os feridos e os retardatários, que estavam em maior perigo. Pouco depois da meia-noite, o USS Doyle também entrou na cena da tragédia e ajudou a resgatar os últimos sobreviventes da água. Dos 1.196 tripulantes do USS Indianopolis, apenas 317 sobreviveram. As estimativas do número de marinheiros que morreram nos ataques de tubarão, variam de algumas dezenas à quase 150. É impossível ter certeza. Mas de qualquer forma, o martírio dos náufragos do Indianopolis continua a ser o pior desastre marítimo da história naval dos Estados Unidos.

Sobreviventes do USS Indianapolis sendo levados para assistência médica na ilha de Guam.

Fonte: Smithsonian

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