segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Os oito principais mitos sobre ateus e ateísmo


1 - Ateu nega a Deus

É um mal-entendido que se transformou em mito, provavelmente por má-fé ou ignorância de crentes: ateu é uma pessoa que por algum motivo nega a Deus, se recusa a aceitar os ensinamentos do Criador. É uma pessoa revoltada que um dia poderá se conciliar com Deus, mesmo que seja em seu leito de morte.

Nada mais falso porque não se pode negar algo ou alguém que não existe. Ateu é tão somente alguém que não acredita em divindades, todas elas, não só as cristãs. E descrença é diferente de negação. Só se pode negar o que existe.

2 – Ateus escolhem descrer em Deus

Este mito está relacionado ao primeiro. Muitas pessoas acham que ateus são pessoas que optaram por não acreditar em Deus para se livrar, por exemplo, das consequências de seus pecados. Eles seriam, na verdade, crentes que tentam fugir de suas responsabilidades diante de Deus. Não é assim. O verdadeiro ateu se torna tal após um período de reflexão sobre a vida e seu propósito, geralmente a partir do questionamento de contradições e dogmas de religiões.

O ateu é essencialmente um questionador que só se sujeita a provas e indícios, e ainda assim provisoriamente, porque sabe o que é verdade hoje poderá não sê-lo amanhã.

3 – Ateus mataram mais que religiosos

Há crentes que adoram propalar que líderes políticos, por serem ateus, mataram mais pessoas do que os governantes religiosos. Como exemplo, eles citam com frequência o ditador soviético Joseph Stalin (1879-1953), que matou entre 2,5 milhões a 10 milhões de pessoas de seu próprio povo.

Trata-se, da parte de crentes, de uma desonestidade intelectual, porque Stalin, como tantos outros ditadores assassinos, não mataram porque eram descrentes, mas para impor uma ideologia de poder, no caso a comunista. Stalin não tinha como palavras de ordem algo como “Ateus unidos jamais serão vencidos”.

Quanto às crenças religiosas, já se matou (e ainda continua) muitos em nome delas ou do deus que veneram. As religiões, por sua natureza, são belicosas. Uma exclui a outra porque todas se acham “a verdadeira”, a do povo eleito por Deus. As chamadas guerras santas e a Santa Inquisição alimentaram rios de sangue em nome de religiões.

E não houve uma guerra, sequer uma guerrinha, em nome do ateísmo.

4 – Pessoas são descrentes porque não tiveram vivência divina

É mito também achar que ateus são pessoas que ainda não tomaram conhecimento da existência de Deus porque nunca tiveram uma experiência com o sobrenatural. Nunca, por exemplo, foram curados por um milagre ou tiveram sonho com seres celestiais, essas coisas. Por esse mito, a conversão de ateus pode ocorrer em momentos extremos, como a queda de um avião ou à beira da morte, quando a pessoa passa a ter medo de ir para o inferno. Esse tipo de “achismo” reflete o quanto é difícil a uma parte dos crentes aceitar a existência de ateus, de pessoas que não se ajoelham diante de uma suposta entidade por temê-la.

5 – Ateus não têm valores morais

Como para a maioria dos teístas, Deus (ou deuses) são a fonte da moralidade humana, há um mito de que os ateus não possuem qualquer parâmetro moral, tratando-se, portanto, de pessoas que devem estar sempre sob suspeita, porque são capazes das maiores atrocidades, como Stalin.

Por mais absurdo que esse mito seja, ainda existem muitos crentes que o tem como verdade, como se livros sagrados fossem um compêndio de bons exemplos, o que não é verdade.

Peço licença para relatar um caso pessoal. Há dois anos, procurei um advogado indicado por um amigo para resolver uma pendência judiciária. Lá pelas tantas, o advogado disse que eu precisava tomar muito cuidado com Fulano porque ele era perverso e traiçoeiro. Eu perguntei como ele sabia disso. O advogado respondeu que tinha certeza do que dizia porque sabia que o Fulano era ateu. Respondi que eu também sou ateu, e se criou um constrangimento e a conversa mudou de rumo,

Independentemente de se crer ou não em Deus, ou no Homem-Aranha, ou seja lá o que for, há pessoas boas e outras com desvio moral — e, a rigor, ninguém é perfeito.

Além disso, estudos recentes mostram que o senso de moralidade faz parte da natureza humana, não dependendo, portanto, de crenças religiosas.

O mito de que ateus são pessoas perversas é a base do preconceito de expressiva parcela dos religiosos em relação aos descrentes,

6 – Vida de ateu não tem sentido

Para teístas, o sentido da vida está em agradar a Deus para obter benesses em outro mundo, o céu, onde tudo é belo e não há sofrimento.

Por isso eles entendem que a vida dos ateus tem nenhum sentido, que é um desperdício do sopro divino. Trata-se de uma vida sem perspectiva, pobre, mesquinha, etc.

Nada disso corresponde à verdade, porque os ateus dão muito valor à vida que têm porque sabem que ela é única. E se praticam o bem, a caridade, não é para agradar alguma divindade, mas simplesmente porque é sua vontade própria.

O filósofo Nietzsche escreveu que a maior desgraça do catolicismo é desvalorizar esta vida terrena em troca de uma vida sobrenatural que não existe.

7 – Ateus adoram Satanás

O mito de que ateus adoram Satanás é risível porque para os descrentes não existe qualquer entidade sobrenatural. Isso inclui Deus e obviamente Satanás. Outra coisa: adoração não faz parte de um ateu típico.

A adoração sempre pressupõe a submissão de uma pessoa a algo ou a alguém, o que não é o comportamento de quem se orgulha de ser livre pensador.

8 – Ateus querem impor sua religião secular

Nos últimos anos, com o surgimento de uma militância ateísta despertada principalmente pelo atentado às torres gêmeas de Nova Iorque, em setembro de 2001, há nos Estados Unidos crentes que acreditam que os ateus têm um projeto de poder, de modo impor a sua religião secular.

Na verdade, tanto nos Estados Unidos como no Brasil, o que fica evidente é que grupos religiosos se esforçam para influenciar cada vez mais as decisões do governo, em proveito próprio.

A luta dos militantes ateus não é para tomar o poder e instituir um regime de governo que proíba o culto a deuses.

O que os ateus pretendem, no caso do Brasil, é tão somente respeito para com o Estado laico.

Fonte: Paulopes

Um comentário:

  1. Texto bem escrito. Só uma correção. O atentado às torres gêmeas foi em 2001.

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