sábado, 18 de agosto de 2012

Brasil é ouro em intolerância

 por André Barcinski para Folha

Já virou hábito: toda vez que um time ou uma seleção do Brasil ganha um título, os atletas interrompem a comemoração para abrir um círculo e rezar. Sempre diante das câmeras, claro.

O mesmo aconteceu sábado passado, quando a seleção feminina de vôlei conquistou espetacularmente o bicampeonato olímpico em cima da seleção norte-americana, que era favorita.



O Brasil é oficialmente laico desde 1891 e a Constituição prevê a liberdade de religião.

Será mesmo?

O que aconteceria se alguma jogadora da seleção de vôlei fosse budista? Ou mórmon? Ou umbandista? Ou agnóstica? Ou islâmica?

Alguém perguntou a todas as atletas e aos membros da comissão técnica se gostariam de rezar o “Pai Nosso”?

Ou será que alguns se sentiram compelidos a participar para não destoar da festa?

Será que essas manifestações públicas e encenadas, em vez de propagar o caráter multirreligioso do país, não o estão atrapalhando?

Claro que ninguém questiona a boa intenção das atletas. Mas o gesto da reza coletiva está tão arraigado, que ninguém pensa em seu real simbolismo e significado.

A questão não é opção religiosa, mas a liberdade de escolha. Qualquer pessoa pode acreditar no que quiser, contanto que deixe a outra livre para fazer o mesmo. Sem constrangimentos. E não é o que está acontecendo.

Liberdade religiosa só existe quando não se mistura religião a nada. Nem à política, nem à educação, nem à ciência e nem ao esporte.

Em 2010, a Fifa acertou ao proibir manifestações religiosas na Copa da África do Sul. A decisão foi tomada depois de a seleção brasileira ter rezado fervorosamente em campo depois da vitória na Copa das Confederações, um ano antes, o que provocou protestos de países como a Dinamarca.

Em 2014 e 2016, o Brasil vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A CBF e o COL precisam tomar providências para que os eventos não se tornem festivais públicos de intolerância.

Atletas precisam entender que estão representando um país de religiosidade livre. Eles têm todo o direito de manifestar sua crença, mas não enquanto vestem uma camisa laica.

Claro que atitudes assim serão impopulares e gerarão protestos. Muita gente confunde a garantia da liberdade de opção religiosa com censura.

Quem disse que é fácil viver numa democracia?

3 comentários:

  1. Mesmo não gostando desses papinho de anti-religiosos, concordo com essa questão da liberdade de escolha e com tudo o mais sobre a seleção de volei.

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  2. na minha humilde opinião acho bem melhor esta rezando o pai nosso do q esta matando ou roubando...todas estão demonstrando satisfção nisso?então deixe assim!

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    Respostas
    1. "todas estão mostrando satisfação"

      Estão mesmo? Ou estão entrando na onda para não destoar?

      Você ainda diz que é melhor estar rezando do que matando ou roubando. Claro, mas tome cuidado porque está linha de pensamento sua abre espaço para aquela pergunta: "Por acaso você está dizendo então que quem não reza tem maiores chances de matar ou roubar?" Sei que não foi isso que quis dizer, mas para não estar matando ou roubando, uma pessoa não necessariamente precisa estar rezando.

      O discutido aqui é a necessidade de explicitar e por vezes "jogar na cara" das pessoas não religiosas , ou que não compatilham de sua fé algo íntimo como sua crença religiosa. Talvez não tenha sido essa a intenção delas, mas o momento soa como proselitismo religioso. Algo totalmente incompatível com política, educação ou esporte, além de outros seguimentos do cotidiano.

      Essa é a crítica.

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